Sobre ser pedra - Carlos Drummond de Andrade
Drummond
deixou-nos
além da pedra
o meio,
o caminho
e a poesia
façamos
a obra
se calarem o que o
coração das pessoas
cantam, até as próprias
pedras começarão a cantar.
(eram pedras que os fariseus
queriam atacar na prostituta
que Jesus acolheu)
façamos
a obra
as pedras rolam
no satisfaction
mediante
a meditação
do monge;
é na pedra parada
que a vida musgo nasce,
que o pouso da borboleta
acontece, antes do próximo voo,
que pode ser o último
ou o primeiro,
depois da metamorfose
ter acontecido dentro do casulo
grudado
na pedra.
pedra ergue
o alicerce
da casa
vejo a paisagem pedra
ter a forma da
resiliência
que se forma
com passar
do vento.
Drummond
deixou talhado
na pedra:
até para
ser pedra
você tem
que merecer
ser pedra.
Ser pedras
sem se esqueser
de ser o ser
que se é,
estando mais
em estado
de estar
presente de si,
sem a presença das
etiquetas sociais
que te vestem seu eu.
Drummond,
deixou-nos
a poesia,
o meio,
o caminho
a pedra,
e a flor feia
(mas ainda flor)
que nasceu
das fendas do concreto,
furou o asfalto,
trincou as paredes
de pedra feita pelas
químicas do homem,
ser pedra é entender,
que a poesia nasce
dessa dureza calcária,
prá vencer
o tédio, o nojo e o ódio,
feito lava incandescente
que emerge do mais profundo
centro da terra do ser,
para derreter, solidificar,
virar rocha, e da bruteza,
germinar a flor feia
na pedra.
que bate na
"Sociedade hipócrita",
que lasca o que diz em coro
o ajuntamento de gente,
quando você vê algo que não concorda.
Por trás dos bastidores das máscaras de cada um,
reside o que realmente precisa ser visto e dito,
mas se esconde.
mas se esconde.
E agora, José,
como ser resistente?
façamos
a obra
sobre
ser
pedra
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