Você já agradeceu a sua caixinha?
anunciando o pedido:
-Olha a caixinha do coletor!
Sempre com sacadas certeiras, acertam no timing. Para além dos tradicionais comerciais, são os sinais urbanos de que o fim de ano está chegando.
Ao menos para nós, que seguimos o calendário gregoriano e que tem coleta regular de lixo no bairro/cidade.
A reflexão vem:
será que merecemos receber caixinha por fazer nada mais que nossa obrigação ou por algum feito extraordinário, que saiu da caixa das nossas atribuições?
Coletores passam toda semana. Com raras exceções de quando há greve, sempre ouço aquela feliz barulheira que o caminhão traz trepados na traseira. É canção humana espontânea que me alegra, diferente do caminhão de gás, que toca num looping irritante sua paródia da sétima sinfonia, olha o gás.
Eu, me divido entre cumprir obrigações de pagar as contas, limpar a casa, comprar comida e tocar projetos e sonhos. Desempregado, fazendo bicos e mantendo a vontade de realizar, foi difícil. Mas sobrevivi.
A gente sempre vive.
Lamentar é gastar suor do nosso ânimo para chorar sem lágrimas. É mimimi feito bullying que decidimos praticar de forma arbitrária contra nós mesmos.
Somos nós quem, em primeiro lugar, premiamos com caixinha nossos feitos. Todo dia, é oportunidade para recolher e jogar fora os lixos que nos contaminam.
Procrastinação é uma exigência falsa que fazemos. Nem greve é, pois não reivindica nenhum direito, ao contrário, abre mão deles. Direito de lutar pelo nosso direito humano de sonhar, por exemplo.
Procrastinar é como ser um coletor surrealista, que se acha um saco de lixo, tentando arremessar caminhões dentro de coletores. Poderia dar boa pintura, mas na vida real seria apenas um borrão.
Sejamos justos e leves conosco. A gente tenta fazer o melhor com o que temos. As vezes levamos porradas, mas aprenda a levantar e ficar mais forte.
Reciclar ideias. Manter e renovar sonhos. A vida não faz greve. Ela segue em frente, passa existindo, ainda que decidíssemos parar, ela passa.
Relaxar não é sinônimo de preguiça. É se desarmar das munições sociais e comportamentais como stresses, obrigações, exigências, prazos.
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