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segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Aristiliano - Amor ao próximo | Parte I
Uma lição começa a ser aprendida, só que na basa da porrada
O que ele queria dizer com aquilo? - pensou Aristiliano enquanto caia. O impacto que o atingiu pôs tudo em sintonia lenta. Em sua reflexão, podia jurar que via seu próprio corpo, agora inerte, se inclinando para o chão. O agressor ainda mantinha a pose de quem se orgulhava do feito.

- essa foi na veia, seu filha da puta!

Aristiliano não imaginava que um comentário pueril sobre o cotidiano explodiria daquele jeito.  O octógono social assistia satisfeito o UFC gratuito no meio da rua. O pagamento desse payperview era interromper o trajeto para o trabalho. Valia tudo para não perder o show.

O assunto iria render ao menos até a hora do almoço. Um mais empolgado, chegaria esbaforido, largando suas coisas sob a mesa do escritório e, para desviar a atenção do seu atraso, principalmente do chefe, já começaria sua narrativa:

- mano, o bicho pegou lá no terminal.

Aristiliano seria um assunto passageiro.
Sem nota digna.

Nada mais que uma história real que, aos poucos, se tornaria piada, gatilho para alguém relembrar um causo de violência.

O som do soco que levou seria mal interpretado jocosamente por quem relatasse o ocorrido. O julgamento rápido e cruel de, se ele mereceu ou não a porrada, seria concluído em poucas palavras.

O tribunal do senso comum é implacável e surpreendentemente previsível.

- O que ele queria dizer com aquilo?

A pergunta se mantinha travada como o único músculo possível de se mover diante da concussão provocada pelo murro.

Era mais que filosofia.

Foi certeiro mesmo, atingindo o ponto nevrálgico da coisa.
O punho fechado, que foi de encontro a lateral direita do queixo, concordaria:

- Valeu cada falange fraturada.

Mesmo quando o efeito anestésico da adrenalina passar, o orgulho pelo acerto será mais forte que a dor e maior que o inchaço.

Aristiliano chegou a ver uma expressão de arrependimento na face do agressor.

Por um breve instante, o instinto humano que parece dividir espaço com o inerente lado animalesco que todos têm dentro de si, se figurou no espirito do seu algoz, externalizado em seu rosto.

Durou pouco.

A aprovação vinda da multidão que assistia falou mais forte.


Manay Deô | Heterônimo Poeta Publicitário Sou #poeta, brinco com #palavras e inventor #palavrários como #redator de #poesiapublicitaria e Soul #Heterônimo criativo e #artista - > 📬 manaydeo@gmail.com

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